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Olhos nos olhos com Rui Taborda o eterno baixista dos TAXI

Olhos nos olhos com Rui Taborda o eterno baixista dos TAXI

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A FOCUSMSN foi ao encontro de Rui Taborda, na sua casa no Porto, bem junto à casa da Música, no estúdio onde ensaiam e compõem as suas músicas, o eterno baixista dos TAXI contou-nos um pouco da história da banda nesta divertida entrevista.

FOCUSMSN: Rui, obrigado por me receberes aqui na tua casa, quero que me reveles um pouco de ti e da carreira musical que abraçaste há mais de 40 anos, nos TAXI. Como foi a tua infância e como despertou em ti o interesse pela música?

Rui Taborda: O interesse pela música aconteceu desde muito novo, aos 5 anos comecei a aprender a tocar piano, embora actualmente seja o instrumento que mais gosto de tocar, na altura eu preferia guitarras eléctricas principalmente por influência dos Beatles.

A minha infância foi passada com amigos a jogar a bola e a fazer coisas próprias da idade, era um pouco rebelde, mas nada de exagerado, com o avançar da idade e entrada no liceu o meu interesse focou-se apenas na música.

F: Quando adquiriste os teus primeiros instrumentos musicais?

RT: Em casa já havia um piano, depois por volta dos 7 anos deram-me uma guitarra acústica e comecei a aprender a toca-la através dos acordes do piano, que aprendia nas aulas, e que transferia para a guitarra.

F: Singrar na música, ter uma carreira musical, sempre foi o teu objectivo?

RT: Sim, sempre foi o meu objectivo embora tendo sempre a consciência, mesmo já nos TAXI, que não era um percurso fácil e que não duraria para sempre.

Curiosamente nunca quis viver da música porque isso obrigava-me a deixar de gostar de música, gosto tanto de música que me incomodava ter que ceder e perder criatividade para agradar a terceiros, nomeadamente às editoras.

F: Como era sonhar ser musico para um jovem portuense na década de 70, achavas que isso seria possível?

RT: Quando somos jovens temos muitos sonhos e objectivos na vida, eu sonhava em ter uma carreira internacional e tocar numa banda. Quando era miúdo muitas vezes me colocava em frente do espelho com uma guitarra e imaginava-me a tocar em diversos palcos não fazendo a mínima ideia do que o futuro me reservava, mas achava que era possível.

F: Que géneros musicais eram a tua onda na época e que músicos foram referência para ti e se ainda hoje são?

RT: A minha onda era o rock, os influenciadores foram em número um os Beatles e a seguir Rolling Stones, mais tarde os The Who e os Led Zeppelin.

F: Antes do João Grande ir ao teu encontro já tinhas tido alguma experiência musical com colegas de escola e amigos ou tocavas apenas no quarto?

RT: Já tinha tido algumas experiências com colegas, usávamos alguma criatividade porque não tínhamos os instrumentos todos, a bateria, por exemplo, eram caixas de cartão, as baquetas eram colheres de pau (risos), era a idade da descoberta e da inocência.

F: De repente o João Grande bate-te a porta para te convidar para formar uma banda (Sticky Fingers), como foi esse encontro e que energias positivas emanaram desse inesperado momento?

RT: Já foi há muitos anos, não me recordo dos detalhes, mas sei que foi uma amizade à primeira vista, o João bateu-me à porta, disse ao que vinha, achei a situação engraçada, como tínhamos interesses comuns, começamos logo a experimentar vários instrumentos e mais tarde acabamos por formar os Sticky Fingers. Na altura tocava piano e órgão, e só mais tarde passei para o baixo.

F: A partir daí nunca mais se largaram….

RT: Nunca mais nos largamos, o primeiro concerto que fizemos, eu tinha 14 anos, foi na Granja, e a partir de então os estudos foram chutados para canto (risos)

F: O João contou-me que quando nesse dia entrou em casa tinhas um show montado, estavas a tocar bateria com uma panóplia de acessórios, tinhas até aplausos gravados, era um ‘show’ solitário. Ainda te lembras disso?

RT: Sim, gravava aplausos com cassetes e fazia multi-trackings de um gravador que tinha com duas pistas, fazia umas misturas que metia palmas e tudo, era uma festa (risos).

F: Esse dia, foi o momento que te definiu o caminho, tinhas alguém com os mesmos objectivos e sonhos em quem te apoiares. Sentiste-te empolgado por teres um amigo que pensava como tu?

RT: Senti, claro. Depois juntamo-nos a outros amigos e senti que podíamos fazer qualquer coisa a sério, vi uma oportunidade real de poder ser músico e concretizar alguns dos sonhos.

Curiosamente, o primeiro concerto a sério, ao vivo, que íamos dar, no antigo liceu D. Manuel, foi exactamente no dia 25 de Abril de 1974. O dia que seria o da nossa estreia houve uma revolução, foi adiado (risos).

F: Formas então os Sticky Fingers, entras nos Pesquisa e finalmente os TAXI, desde a bateria em casa, dos teclados nos Sticky Fingers e do baixo nos Pesquisa tiveste o teu tempo de experimentalismo, é a fase da descoberta, porque te fixaste no baixo?

RT: É engraçado porque nem eu sei muito bem, o baixo sempre me seduziu, mas nós na altura experimentávamos vários instrumentos, trocávamos muito, toquei guitarra, depois teclados e acabei por me fixar no baixo talvez por necessidade da banda na altura.

F: Entretanto sai o Luis Ruvina dos Pesquisa e os que ficaram resolvem mudar o nome da banda para TAXI, como era a vossa convivência na altura?

RT: Era muito boa, compúnhamos e ensaiávamos, na garagem da minha casa, todos os dias, era do género de começarmos as 14 horas e terminarmos à meia-noite, foram anos de muito trabalho e que acabaram por ajudar à sorte.

A escolha do nome TAXI foi numa perspectiva de podermos alcançar o mercado discográfico internacional.

F: Paralelamente ao gosto comum pela música e dos ensaios que mais coisas, tu e o João Grande, costumavam fazer juntos, iam de férias, ao cinema, à praia ou para o Orfeu e continuar a falar de música?

RT: Íamos para o Orfeu e continuávamos a falar de música (risos), basicamente era falar de música o dia todo.

F: A banda começou a compor músicas cantadas em inglês para alcançarem o mercado estrangeiro. Foi consensual, também achavas que era esse o caminho?

RT: Achava que era esse o caminho porque em Portugal, naquela altura, não havia rock cantado em português, tudo o que passava nas rádios era cantado em inglês e então achávamos que tínhamos que cantar em inglês para podermos concretizar os nossos objectivos.

Há uma situação curiosa ainda no tempo dos Pesquisa, perto do final dos anos 70, fomos à Valentim de Carvalho, aqui no Porto, mostrar o nosso trabalho e quem nos atendeu disse simplesmente isto, ‘Bom, se vocês tocarem com uns bombos ainda somos capazes de gravar, agora rock não’ (risos).

Ficamos então com a certeza que seria muito difícil em Portugal gravar músicas rock por isso o nosso foco foi tentar o mercado estrangeiro.

F: Apesar da banda TAXI ter sido formada em 1979, vocês atravessaram noutros projectos a transição de regime político, eras muito jovem em 1974, o que recordas desses momentos?

RT: O que mais me recordo dessa época foi de repente começar a ver tanques de guerra nas ruas, foi um pouco assustador para mim, não sabia o que poderia acontecer, falava-se numa revolução, ‘revolução de quê?’, ‘o que se passa?’, eram as interrogações que tinha, porque o que eu queria mesmo era ir para o liceu tocar.

A política não me dizia nada, estava focado num sonho, queria era ir tocar, mas nesse dia não me deixaram (risos).

F: Mais tarde surge a oportunidade de gravarem um disco como recebeste essa notícia?

RT: Olha, eu e o Henrique Oliveira (guitarrista) já tínhamos estado um mês em Londres a fazer uns contactos para tentar gravar lá e as coisas estavam bem encaminhadas, regressamos em Novembro, e em Janeiro de 1980, surge o convite, depois de um concerto no colégio Alemão, do Tózé Brito e do António Pinho, da Polygram. Fiquei contente por um lado, mas céptico por outro, contente por haver alguém que reparou em nós e veio ter connosco e céptico porque poderíamos estar a perder uma oportunidade no estrangeiro, que era o nosso foco principal.

Acabamos por aceitar de bom grado o convite.

F: Mas tinham que cantar em português….. tiveste que alterar acordes na guitarra para acompanhar uma sonoridade linguística diferente ou para ti nada mudou?

RT: Nada mudou para mim em termos de acordes, mas mudou em termos de sonoridade, estava habituado a ensaiarmos os vocais em inglês e de repente cantar em português custou-me um bocado, mas aos poucos fui-me habituando.

No entanto houve uma canção que me soou logo bem, foi a música ‘É-me Igual’, e a partir daí as coisas foram-se compondo.

F: Entretanto vieram a Lisboa gravar o disco, como correu a gravação do álbum TAXI?

RT: Correu muito bem, nós tínhamos passado anos a ensaiar de modo que estávamos bem afinados, foi quase tudo feito ao primeiro take, numa semana gravamos o álbum.

F: Desta tua já longa carreira musical nos TAXI que momento recordas como o mais marcante?

RT: O momento mais marcante para mim foi o concerto dos Clash, no Dramático de Cascais, primeiro porque eu adorava a banda, ainda hoje adoro, e depois por estarmos ao lado deles e fazer a primeira parte do concerto. Ficou-me para sempre na memória, ainda para mais, o concerto correu-nos muito bem.

F: A partir daí a vossa vida mudou, deixaram a pacata cidade do Porto para viver um turbilhão de emoções, quilómetros de estrada e pisarem palcos pelo país fora. Como eram essas viagens visto que não havia as autoestradas que há hoje?

RT: Lembro-me que naquela época as viagens eram dolorosas, divertíamo-nos muito, tínhamos uma equipa grande, íamos numa carrinha com os roadies, mas eram muito cansativas, aconteceu tocarmos no Algarve e no dia seguinte em Bragança, imagina fazermos mais de 500km sem autoestradas, com um calor imenso. Era desgastante.

F: Entretanto em 1981 tocam no Dramático de Cascais, a primeira parte do concerto dos Clash, em que apresentaram o álbum TAXI e que seria o ponto de viragem na carreira da banda. O que recordas desse momento, o que mais te marcou?

RT: Para já foi o ter tocado com os Clash, uma banda da qual ainda hoje sou fã, gosto muito, depois foi o concerto ter-nos corrido muito bem e a seguir estarmos no backstage a conviver com eles.

Lembro-me de uma história muito engraçada, havia ali uma ligação política do Clash aos sandinistas e o Luís Filipe de Barros quis falar com um dos músicos para saber mais coisas sobre essa ligação política, mas eles não queriam falar disso, queriam era divertir-se, beber cerveja, rock e mulheres (risos).

Chamaram um assessor, que viajava com a banda, para responder às perguntas do Luís Filipe de Barros, quando o tal assessor aparece o Luís disse-lhe ‘Não é contigo que eu quero falar, quero é saber o que os músicos pensam’, depois comentou para nós, ‘ai os bandidos têm aqui um estratagema para fugir às perguntas’, achei muita graça à situação.

Outra situação engraçada passou-se antes do concerto, nós fomos com o António Avelar Pinho, que era o nosso produtor e da editora, e ele lembrou-se de oferecer uma garrafa de vinho do Porto ao técnico de som dos Clash. Foi ao supermercado ao lado e comprou lá uma garrafa das mais baratas, o técnico de som confundiu a data de fundação da marca com a da colheita, se calhar por isso, fez-nos um som como nunca tínhamos tido (risos).

F: Com este álbum atingiram a marca de duplo disco de ouro, um enorme reconhecimento por parte do público, maioritariamente jovem, que ansiava por algo diferente, que lhes trouxesse outra dinâmica musical. Estavas à espera de tamanho sucesso?

RT: Nós estávamos à espera que corresse bem, mas não imaginávamos que fosse correr tão bem. Na altura vendiam-se dois a três mil álbuns a nível nacional, fosse de fado, música ligeira ou pop, a média andava por aí, e o Tózé Brito, depois da gravação do disco, disse-nos que se vendêssemos cinco mil seria uma grande vitória para todos. Acabamos por vender mais de sessenta mil o que foi uma situação inesperada, se com cinco mil já ficaríamos todos contentes, imagina então a nossa alegria.

F: Tudo mudou para ti depois desse sucesso de vendas. Como reagiram os teus pais? Acharam muito bem ou disseram-te, ‘vê lá onde te vais meter a música não é futuro para ninguém’?

RT: Sempre me disseram que a música não era futuro para ninguém e para eu me dedicar mais aos estudos. O meu pai sempre foi um pouco contra a minha ideia, tal como ele, queria que eu fosse médico, mas depois do sucesso do disco começou a aceitar melhor a minha escolha e a ver que se calhar eu tinha algum futuro na música. Apoiou-me, mas sempre a avisar-me que o sucesso musical não dura para sempre.

O meu pai era psiquiatra, e por vezes durante almoços, os colegas queriam saber como era esta vida, o que os jovens pensavam, para entender a dinâmica, e faziam-me muitas perguntas sobre os concertos, a nossa vivência e sobre as nossas ideias de futuro.

F: Editam depois Cairo, Salutz e The Night, este em inglês, antes de anunciarem o final da banda, em 1986, devido a divergências no rumo musical do grupo. O álbum The Night acabou por ser o responsável pelo vosso desentendimento?

RT: Chegámos a uma fase da carreira em que já não estávamos a achar graça aos concertos, já não nos motivavam, porque eram muitas viagens, sempre de um lado para o outro, horas e horas dentro de um carro, longe da nossa base e da nossa família, foi muito desgastante.

Então tentámos editar um álbum em inglês para mudarmos o foco e fazermos algo que nos empolgasse, que era na altura entrar no mercado estrangeiro, numa de vamos tentar se conseguirmos tudo bem se não, paciência. Estávamos a ficar saturados de fazer sempre as mesmas coisas, estava até a ficar sem vontade de fazer música.

Eu tinha, e como estás a ver ainda tenho, um estúdio em casa onde nós ensaiávamos e compúnhamos, e apesar da minha juventude eu gostava de passar os fins-de-semana em casa, no conforto do estúdio, a compor música e isso estava a perder-se.

F: Dá-se a separação, tentaste de alguma forma que isto não acontecesse, numa retrospectiva, se pudesses voltar atrás, achas que poderias ter feito algo diferente para que continuassem unidos num objectivo comum ou não havia volta a dar?

RT: Não havia retorno, foi uma decisão consciente, eu e o Henrique Oliveira (guitarrista) abraçamos projectos de televisão, fazer coisas novas sempre me empolgaram e entusiasmaram, o meu foco passou a ser a TV onde fui realizador, argumentista e produtor de programas como Major Alvega, Claxon, Batatoon, e outros. Dediquei todo o meu tempo a este projecto de modo que não tinha tempo para ensaiar e compor.

F: Achas que o facto de não terem atingido, nos álbuns Cairo e Salutz, o mesmo sucesso do álbum TAXI precipitou os acontecimentos, ou seja, levou-te a procurar outros projectos?

RT: O álbum Cairo ainda vendeu bastante, atingiu vendas acima da média, embora tivesse ficado aquém do anterior, para o jornal Público foi até considerado um dos melhores álbuns de rock, embora eu não concorde.

O Salutz foi um álbum completamente diferente, tentamos outras sonoridades, uma diferente abordagem musical, até para nosso próprio entusiasmo, o certo é que não saiu um grande álbum.

F: Editam o álbum ‘The Night’, coincidindo com o final da banda, cantado em inglês, numa tentativa de entrar no mercado estrangeiro, para mim a seguir ao álbum TAXI foi o vosso melhor álbum, com uma mistura instrumental e uma sonoridade de excelência, o que correu mal pois até em Portugal ele é pouco conhecido?

RT: Começou por termos sido muito criticados por cantarmos em inglês, o que nem foi muito justo porque juntamente com o Rui Veloso e os UHF fomos os responsáveis por haver, naquela altura, rock cantado em português, não nos deram esse benefício, chegaram a dizer que estávamos a trair o país. Por tudo isto a editora não promoveu o álbum como ele merecia ter sido.

F: A balada Dance, Dance, Dance, é um hino à música porque não cantam temas do álbum nos vossos concertos?

RT: Talvez por ser pouco conhecido, sabes que o público reage favoravelmente àquilo que ouve todos os dias nas rádios, coisas novas nos concertos não funcionam muito bem, e nós tivemos até essa experiência, quando cantamos ao vivo pela primeira vez os temas do álbum Salutz, no concerto de abertura do Rod Stewart, talvez por isso não tenhamos cantado o tema a que te referes ao vivo, no entanto chegamos a fazer uma versão acústica.

F: Achas que de certa forma o vosso primeiro álbum colocou a fasquia tão elevada que levou ao fim da banda, não aguentaram a pressão do momento e da editora?

RT: Não teve a ver com os objectivos da editora, tínhamos no contrato fazer um álbum por ano e cumprimos, a pressão sentimo-la porque tínhamos muitas coisas em simultâneo, concertos, viagens, etc., e começou a faltar tempo para compor, já havia cansaço, não tínhamos tempo para estar descontraidamente a compor.

F: Em 2009, regressam com a formação original e editam o álbum ‘Amanhã’. Durante esse intervalo de mais de 20 anos tiveste esperança que o regresso aconteceria um dia?

RT: Não, se queres que te diga nem pensava muito nisso, estava ocupado com os projectos televisivos de modo que era uma situação que poderia ou não acontecer. Eu e o Henrique estávamos envolvidos em diversos programas, chegamos a ter seis ou sete em simultâneo, era esse o nosso foco.

F: Regressaram, os problemas vieram à tona, voltaram a separar-se, sentiste alguma mágoa? O que se passou?

RT: Não tenho mágoa nenhuma, o ambiente era tão mau e tornou-se tão difícil a convivência, quer nos concertos quer nas viagens, que não tenho saudades, foi um desfecho inevitável. Se me perguntasses, ‘se nos déssemos bem era o ideal?’, responderia que sim, mas infelizmente não foi o que aconteceu, o ambiente era simplesmente terrível.

Nessa altura estava na música, como sempre estive, para me divertir, tocar a música pela música, conviver e passar bons momentos, mas infelizmente havia discussões por coisas mesquinhas, coisas absolutamente ridículas. De certa forma foi um alívio para mim termos concluído esta etapa.

F: Depois disto, pensaste em seguir em frente com o João e não deixar morrer os TAXI?

RT: Sim, conversei com o João e resolvemos continuar a compor. Foi uma altura de paz de espírito, compúnhamos calmamente, sem discussões fúteis, sem stresses, num bom ambiente, com muita diversão e isso foi o mais importante.

F: Durante parte do tempo em que os TAXI estiveram afastados dos palcos, tu e o João lançam-se num projecto paralelo, mais pop, e formam a banda ‘Os Porto’. Como nascem ‘Os Porto’?

RT: Quando se dá a separação em 2009, eu e o João acordamos em continuar com os TAXI, e começamos a compor livremente. Com várias músicas já terminadas, achamos que a sonoridade não tinha nada a ver com a dos TAXI, era muito mais teclados, menos guitarra, então para não misturar sonoridades e não criar confusão nos fãs, resolvemos criar ‘Os Porto’, em 2010.

F: Nesse ano, editam o álbum Persícula Cingulata com grandes músicas, de que resultaram vários videoclipes, um mix de baladas intensas com um lado mais alegre e outro mais introspectivo, tiveram o destaque merecido nos meios de comunicação?

RT: Não, não tivemos. As pessoas não entendiam porque é que nós sendo elementos dos TAXI aparecíamos agora como ‘Os Porto’, havia alguma carga emocional, ‘afinal isto é o quê?’, ‘são TAXI ou são Porto?’, várias interrogações surgiram, ficamos com a ideia que não interessava a música, o que interessava e vendia era o nome.

F: Porque nos vossos concertos não introduzem uma ou outra música do ‘Os Porto’? É um projecto terminado?

RT: ‘Os Porto’ é um projecto diferente, uma sonoridade mais introspectiva, mais ‘dark’, o que não quer dizer que se voltarmos a compor dentro desta sonoridade não possamos reactivar a banda e até editar um novo álbum, mas não vamos misturar nos concertos dos TAXI músicas dos ‘Os Porto’.

F: Hoje, tu e o João Grande, elementos fundadores da banda, continuam a dar vida aos TAXI, nestes dois últimos anos em que vos tenho acompanhado, em alguns concertos ao vivo, noto um crescente de popularidade, os TAXI estão em ascensão e de regresso aos grandes palcos nacionais?

RT: É difícil sermos os próprios a responder, mas o que eu acho é que em termos de eficácia musical agora estamos melhor, e isso em parte também é devido ao bom ambiente no seio da banda.

Os nossos concertos, tem uma sonoridade muito forte, tanto na voz, como nas guitarras e na bateria, estamos acompanhados de excelentes músicos, e todo este envolvimento gera boas energias que se reflectem depois em palco. Há mais alegria, melhor entendimento, boa disposição, divertimo-nos imenso e tudo isso tem reflexo no palco e consequentemente no público.

Sentirmos uma boa aceitação e, sobretudo, vermos gente muito nova a cantar as letras das nossas canções, é muito gratificante, significa que os TAXI têm um legado musical que continua vivo, apesar dos hiatos temporais em que estivemos fora dos holofotes das rádios e longe dos palcos.

F: Assisti aos vossos concertos nos festivais Compact Records na Maia, Jardins do Marquês em Oeiras, onde fecharam a noite do concerto dos Beach Boys, e recentemente, no fórum de Braga, no Summer End, em todos eles, com actuações de excelência, mas foi neste último que mais se fez sentir o peso do público e a vossa popularidade, com o fórum completamente cheio de gente a cantar e a vibrar. Vieram-me à memória os tempos do Dramático de Cascais, para mim foi um concerto épico e para ti?

RT: Foi um bom concerto, um concerto animado que é isso que se pretende, senti que o público estava connosco, havia sintonia, cantavam e divertiam-se, e nós sentimos muito isso no palco, vermos uma sala completamente cheia de gente de braços no ar e aos saltos, foi empolgante.

O ambiente teve realmente algumas semelhanças com o do Dramático, em 1981, numa sala fechada, cheia de público, mas o stress era outro, na altura inexperientes e com uma responsabilidade acrescida por estarmos com os Clash, hoje as coisas já nos saem mais naturalmente.

F: Que projectos há no futuro para os TAXI em termos de concertos e discos? Há dois anos atrás, aquando da entrevista que fiz ao João Grande, ele disse-me que tinham um disco para sair em breve e que tem sido adiado por causa da pandemia, para quando o vosso novo trabalho?

RT: Há poucos dias lançamos uma música, cantada em inglês, ‘Glory To Ukraine’ uma forma de homenagear a resiliência e resistência do povo ucraniano à guerra que os afecta. Esta música poderá ou não entrar no disco.

Relativamente ao álbum, acontece uma coisa curiosa, temos as músicas prontas, mas continuamos a compor, acontece que essas músicas atravessaram o período de pandemia, como estamos sempre a criar, às tantas achamos que as que fizemos agora são melhores que as anteriores, e que estas já não fazem muito sentido, então vamos substituindo e isso complica (risos), mas em 2023 vai sair o novo álbum, já está tudo alinhavado para podermos começar a gravar.

F: Em termos futuros o que os fãs podem esperar dos TAXI?

RT: Podem esperar, acima de tudo, para além do álbum que espero que gostem, que nos concertos toquemos rock, com força de guitarras, animação, tudo ao natural sem playbacks, onde as pessoas possam cantar, dançar, se sintam bem, saiam satisfeitas e que isso lhes traga boas energias.

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