Não foram precisas grandes revelações para vislumbrar o que SleepyThePrince e DJ Dadda prenunciavam com BLACKOUT. Agora, já à luz do dia, esse “apagão” não poderia ser mais clarividente: a suplantar as próprias expectativas, o resultado do encontro entre estes dois criativos ímpares traz-nos um disco refrescante não só para o panorama em que se enquadra, mas também para os respetivos repertórios de cada um.
Composto por nove temas, é invariavelmente a duas cabeças que BLACKOUT ganha forma nessa escuridão que a dupla abraçou. Esteticamente confinado às trevas, é, porém, bem luminoso o produto que, juntos, conceberam num trabalho verdadeiramente inovador. “MIRROR” e “DA ONE” — únicos singles de antecipação do projeto — já apontavam nessa direção, mas só a sua revelação completa dá agora forma a este corpo artístico esculpido fundamentalmente a quatro mãos.
Mais do que mera opção estética, aliás, a escuridão é na verdade pano de fundo para a mensagem de auto-superação que caracteriza toda a discografia de SleepyThePrince. Desta vez potenciado pelas versáteis e arrojadas batidas de DJ Dadda, é com particular pendor lírico que o príncipe que faz do capacete a sua coroa navega por instrumentais estelares, à boleia de flows cadentes e melodias reluzentes. Das mais inventivas formas, mostra-nos que é precisamente da escuridão que a (sua) luz emerge — lema que, ironicamente, deixa bem patente logo na faixa inaugural do disco: “Como é que um gajo apagado vive assim no escuro?”