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Fernando Tordo, 50 anos da canção 'Tourada' celebrados com muitos abraços

Fernando Tordo, 50 anos da canção ‘Tourada’ celebrados com muitos abraços

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O dia 26 de Fevereiro de 2023, irá ficar registado na memória daqueles que se deslocaram à emblemática sala de espectáculos lisboeta, o Teatro Tivoli, um espaço repleto de recordações e de acontecimentos históricos.

Fernando Tordo assinalou ali os 50 anos da canção ‘Tourada’, cantando-a, integrada num concerto, exactamente, no dia em que a canção se estreou no Festival RTP da Canção de 1973, e que, para surpresa de muitos, incluindo o próprio cantor, venceria aquele concurso e ganhava assim, por mérito próprio, a possibilidade de representar Portugal no Festival Eurovisão no Luxemburgo, mas… esteve quase para não ir.

O ‘exame prévio’, como se denominava na altura a censura, numa designação mais charmosa, em entrevista que fiz ao artista momentos antes do concerto, respondendo à pergunta ‘(…) o que acha que aconteceu para que o ‘exame prévio’ nao tenha censurado a letra, até para a censura do Estado Novo os tempos estavam a mudar ou foi distracção?’, disse ‘eu penso que a censura deixou passar o poema não por distracção mas por má interpretação, quando leram o poema devem ter imaginado que a letra fosse uma sátira às corridas de touros. Só quando a letra é apresentada no festival, acompanhada da música é que se aperceberam que afinal era muito mais que isso, ainda tentaram emendar o erro, felizmente não emendaram’.

A história desta canção é muito simples, o Fernando Tordo escreveu a música e entregou-a ao vizinho de baixo, moravam no mesmo prédio, José Carlos Ary dos Santos, para este escrever a letra. Ao ouvir cantar a melodia o Ary perguntou ao Fernando ‘o que é que isto te faz lembrar?’, ao que este lhe respondeu ´uma tourada’, ´mas eu de touradas não percebo nada’, disse Ary.

O Fernando deu-lhe então vários tópicos do que normalmente acontecia numa tourada, sol, sombra, publico, camarotes, barreiras, etc. e, o mestre da escrita, transformou a ‘Tourada’ numa série de metáforas que conduziram a uma outra tourada, com uma faena ao ‘exame prévio’ que permitiu, que uma música de cariz revolucionário, fosse ouvida na Europa. Pelo meio, já depois do Festival ganho, a canção esteve quase para ser eliminada pela RTP e impedida de representar Portugal no Luxemburgo, quando os censores se aperceberam que ouve uma falha no crivo.

Por toda esta envolvência, por ter criado um precedente, veio dar mais força aos poetas e artistas revolucionários de então. Nas palavras de Paulo de Carvalho, um ilustre convidado neste evento, ‘sem a ‘Tourada’ não tinha havido ‘E Depois do Adeus’’.

Falemos então do concerto de hoje, foram três horas de música, de conversas, recordações, lembranças e de abraços. Aliás, para o cantor, foi o ‘concerto do abraço’, abraçar os que contribuíram para o sucesso desta canção, abraçar Ary dos Santos e o orquestrador Pedro Osório que já não estão entre nós, abraçar o público presente pelo apoio de hoje e por perceber o passado e abraçar os que tornaram possível estarmos aqui hoje em liberdade.

No início do concerto houve uma breve introdução pelo carismático Julio Isidro, sempre alegre e expressivo, que foi a deixa para o Fernando entrar em palco, fazer uma vénia, e cantar três canções sem intervalo ‘Coisas da Malta’, ‘Novo Fado Alegre’ e ‘Viva Brel’.

Quando parou, ficamos a saber que a esposa não o deixava falar muito, justificando assim o facto de não ter dialogado e feito as apresentações devidas antes, felizmente, depressa se esqueceu dessa limitação e no intervalo de cada música, e até final, houve diálogo, houve histórias e muitas recordações.

Apresentou então a primeira convidada da noite, a jovem promissora Picas, que cantou o tema ‘Teus Passos’, depois de ‘Fado de Alcoentre’ e ‘Apenas o Meu Povo’, Fernando apresentou Ricardo Ribeiro, o segundo convidado que subiu ao palco para interpretar ‘Estrela da Tarde’ e ‘Mondadeiras’.

‘Adeus Tristeza’ e ‘Nasceu Assim, Cresceu Assim’ antecederam a apresentação do terceiro convidado da noite, ‘é um cantor que reúne consensos, não só em termos de qualidade musical, mas também porque não se consegue não se ser amigo dele, é tão educado que nunca disse um palavrão’, palavras de Fernando Tordo para anunciar Jorge Palma. Muito aplaudido, o predestinado músico, interpretou ‘Cavalo à Solta’ (em dueto) e ‘Deixa-me Rir’ ao piano.

Seguiu-se ‘Carta à Ângela’ e ‘Fado Cheirinhos’ antes de apresentar o último convidado da noite, ‘convidado surpresa’ assim se referindo a ele durante as entrevistas, o grande amigo Paulo de Carvalho. Aplaudido efusivamente pelo numeroso público, Paulo cantou ‘Uma Cantiga de Amor’ e destacou a amizade e o legado que Fernando Tordo transporta consigo, em mais de 50 anos dedicados à música, e que sem a ‘Tourada’ não seria possível irmos ouvir agora a canção, ‘E Depois do Adeus’.

Após a excelente interpretação de Paulo de Carvalho, nova descida à plateia, na anterior tinha cumprimentado o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa que, com a sua presença, veio abrilhantar e dar mais simbolismo ao acontecimento, para Fernando Tordo aproveitar para agradecer a Jorge Costa Pinto, o maestro da orquestra que acompanhou a canção ‘Tourada’ no Eurofestival e a Nuno Nazareth Fernandes, um homem de muita cultura, poeta, letrista, compositor e muitas mais artes, personalidades a quem está eternamente agradecido e ligado por uma grande amizade. Muitos abraços numa noite de festa e celebração.

O concerto aproximava-se do seu final mas o cantor não se esqueceu de agradecer, também, a todos os que tornaram possível este espectáculo, o público, os músicos, os técnicos de luz e som, à equipa de palco que montou todo o cenário instrumental e à promotora Contos da Praça por todo o trabalho desenvolvido, uma equipa jovem e de gente de muito valor.

‘Canção de Madrugar’ e ‘Tourada’ fecharam então uma sessão musical em que não se deu pelo tempo passar, tudo óptimo, tudo perfeito, até mesmo quando os músicos resolveram colocar uns tons a mais numa determinada música alterando o ritmo, Fernando Tordo brincou com a situação, aproveitando para os elogiar.

Foi com a ‘Tourada’, o ponto alto, afinal era por causa dela que estávamos ali, cantada a muitas vozes que vinham da plateia, o cantor abraçou a grande ovação da noite, uma ovação por tudo quanto deu à música de intervenção e à música popular portuguesa, por um público que não conseguiu ficar sentado.

Ao pedido para mais uma música, cantou a ‘Balada Para os Nossos Filhos’, uma ideia de Ary dos Santos para celebrar o nascimento dos seus filhos gémeos.

Em palco, neste concerto histórico, estiveram com Fernando Tordo, os músicos Valter Rolo ao piano, Lino Guerreiro no saxofone e flauta, André Silva na bateria, Luciano Maia no acordeão e Francisco Santos no baixo, violoncelo.

Para terminar, quero destacar a simplicidade, a humanidade e a humildade do Fernando Tordo, agradecer a maneira como me recebeu no seu camarim para responder às minhas questões e agradecer também ao Samuel Cruz e à agência e promotora Contos da Praça, em nome da FOCUSMSN, pela simpatia, pela disponibilidade e pela amizade.

Alinhamento: Coisas da Malta – Novo Fado Alegre – Viva Brel – Pelos Teus Passos (Picas) – Fado de Alcoentre – Apenas o Meu Povo – Estrela da Tarde (com Ricardo Ribeiro) – Mondadeiras (Ricardo Ribeiro) – Adeus Tristeza – Nasceu Assim, Cresceu Assim – Cavalo Á Solta (com Jorge Palma) – Deixa-me Rir (Jorge Palma) – Carta À Angela – Fado Cheirinhos – Uma Cantiga de Amor (Paulo de Carvalho) – E Depois do Adeus (Paulo de Carvalho) – Canção de Madrugar – Tourada Encore: Balada Para os Nossos Filhos

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